A
rua dos meus avós era a Rua Conselheiro Abílio Beça, mais conhecida por Rua de
Trás por contraposição à Rua Direita, ambas bifurcadas na Praça da Sé, em
direcção à tutelar torre de menagem. Casa de três pisos e loja, paredes meias
com a Câmara Municipal, a escassos cem metros do Museu Abade Baçal. Gravada no
granito frontespício, a data abissal de 1783. O número da porta era o 61.
O
meu avô Domingos, cidadão honorário de Zamora, vinha da raia com brilhozinho
nos olhos sempre pontualmente às sete para jantar. A minha avó Olinda
disfarçava e o pessoal tentava não ter conversas polémicas. Política nunca!
O meu avô
Domingos era uma personagem incontornável. Levava-me a todo o lado no jipe da
Guarda Fiscal de que era comandante. Percorríamos a fronteira. Entrávamos por
Espanha sempre que nos apetecia comprar caramelos. A intimidade com os
espanhóis é aqui total. A proximidade e a Guerra Civil de Espanha traçaram
cumplicidades com o regime franquista, nem sempre totalmente saudáveis.
Depois
do jantar a rua estalava de calor acumulado. Caminhada esforçada até ao
"Café Leão", ali a 300 metros, na Praça da Sé. Saturação de tabaco.
Bicas suadas. Conversas encaloradas. Eu era mostrado
como um troféu. Que grande que ele está... Cada vez mais igual
ao pai... Então sempre queres ser médico quando fores grande? Grande já eu
era. Tinha 12 anos, porra! E, francamente, não tinha a mínima vontade de ser
qualquer coisa. Queria era sair dali.
3 comments:
Conheço bem esse café com entrada pela Pç e pela rua.
Só não sei o nome dele...
Então só queria sair dali ?
Era muito o calor, não era ?
Café Leão.
Ai era esse...
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