Em Fevereiro
de 62 a minha vida mudou radicalmente. De filho único isolado e protegido em
Lisboa, passei, no espaço de 2 ou 3 meses, a gandulo de rua. Viver numa moradia
é estar permanentemente lá fora. É só abrir a porta. Não há elevadores,
escadas, obstáculos. A porta é a única fronteira. Uma fronteira muito ténue.
Comecei a
conhecer gente. Julgo que o primeiro que conheci foi o Jaime Abreu. Ia eu de
bicicleta e um rapaz gordinho chamou-me e pediu para dar uma voltinha. Daí para
a frente fui-me integrando na comunidade existente, o que nem sempre foi fácil.
Entretanto
havia o Liceu Nacional de Oeiras, que, naquele tempo, abrangia toda a Linha de
Cascais (o Liceu de S. João só foi inaugurado em 1968). Um mar de gente
inundava todos os dias aqueles corredores barulhentos. Tínhamos dezenas de
colegas de todas as proveniências. Uma mistura saudavelmente democrática e
socialmente relevante: desde “queques da Linha” e “meninos bem de Cascais”, aos
alunos que vinham detrás da Linha, de Laveiras, de Barcarena, de Matos
Cheirinhos ou mesmo de Varges Mondar.
As miúdas
tinham aulas de manhã. Os rapazes só tinham aulas à tarde. O cruzamento era à saída. Nós começávamos às 13,30h e íamos assistir à saída talvez levados por
um impulso... romântico.
2 comments:
Que nomes aprendi agora !
Quanto ao impulso : SAUDAVELMENTE NATURAL !
Ler os textos do Jorge, sempre ensinam alguma coisa....
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