O uivo da
sirene da Fundição de Oeiras tocava logo de manhã, ao almoço e ao fim da tarde…
pontualmente. Aliás, durante toda a minha adolescência fui perseguido por
aquele uivo fabril. Um uivo que chamava os operários de bata azul e que nos
lembrava constantemente as horas a escoarem-se. Talvez seja por isso que recuso
relógios e que ainda hoje tenho vómitos quando ouço uma simples ambulância ou
um carro de bombeiros.
A Fundição
(como era conhecida), hoje uma ruína votada ao abandono na expectativa de uma
qualquer especulação imobiliária que a reabilite, era uma unidade industrial de
elite no panorama nacional. Iniciada ainda no século XIX, na lógica da
Revolução Industrial, como simples metalúrgica, passou a metalomecânica em
1921.
Entre 1956 e
1966, já sob a direcção de António Cardoso dos Santos, conhecido por “o
Cardoso”, grande amigo de Ricardo Espírito Santo (do BES), que tinha conhecido
em Paris e a quem se diz ter prestado um grande favor (fala-se de questões de
protecção relacionadas com o período nazi e a ocupação de França) e, mais
tarde, amigo de Salazar. A Fundição conheceu uma grande expansão
(inclusivamente internacional).
Fabricava
fogões, máquinas de lavar, banheiras, aquecedores, equipamento e, mais tarde,
armamento militar. Em 1974 foi nacionalizada, na sequência da Revolução do 25
de Abril. Nos anos 80 (pouco tempo antes de fechar) ainda daqui saíram muitas
granadas de morteiro para a guerra Irão/Iraque, que, aliás, seriam vendidas a
ambos os beligerantes. Depois foi definhando, vítima de má gestão. Acabou por
encerrar no final da década de 80.
7 comments:
No caso: Nacionalização = Má gestão.
Consequência : + desemprego.
E eu, Jorge, que tenho a mania de cumprir horas...
Eu tb cumpro, mas sem relógio :))
Eu cumpro também...
É por intuição ?
Os telemóveis ajudam.
AH !...
E que nome dá a ees auxiliar ?
Uma pena que a fundição tenha fechado as portas.
Por aqui estamos na luta para não fechar a nossa.
Estou acompanhando o "Comigo Mesmo" por aqui e pelo face, lá o acesso é mais fácil.
Como sempre e pra nossa sorte, tua escrita é pra lá de boa. Continua.
(Vou comentando qdo posso; quase dois meses de molho)
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