Quando a sirene
da Fundição tocava às 13h o meu cão Nero, um Serra d'Aire cabeludo, era lançado
à minha procura com a trela encarnada engatada na coleira. Era a maneira de eu
saber que tinha de acabar o jogo das três covinhas que disputava desde as 10 da
manhã por debaixo do Bloco B, de Nova Oeiras, ou de terminar a corrida de
carrinhos Dinky Toys à volta da
Alameda. Precipitava-me para casa a engolir o bife com batatas fritas e
avançava para o Liceu ainda a ruminar a maçã reineta.
O Liceu era
feito de corredores compridos, vidros e muito eco, gritado na vozeria insegura e
exibicionista da juventude irrequieta. O reitor, o Dr. Mexia, fazia da “posição
de dez para as duas”, uma maneira de estar na vida. Fiscalizava diariamente a
entrada para as aulas. Repreendia os jeans
coçados dos rapazes e as miúdas pintadas ou com saias acima do joelho. Muita
gente odiava o reitor, conotando-o com a repressão do regime. Não sei. Sei que
era o símbolo do poder, da moral e dos bons costumes. Coisas importantes, mas
para as quais nos estávamos completamente nas tintas.
PS: na foto, eu a minha mãe e o cão Nero ainda bebé.
3 comments:
Que original maneira, Jorge :
O Nero era lançado à minha procura com a trela encarnada engatada na coleira. !
Bons tempos esses...
Very nice bloog you have here
Post a Comment