19.3.09

VINHO DO PORTO - III

As castas predominantes são quatro: os Brâmanes ou sacerdotes; os Chátrias ou guerreiros; os Vaisias, camponeses e comerciantes; e os Sudras ou escravos, povos não arianos. As castas não se podem misturar. Cada uma tem de ficar na sua, eternamente. Mas isto é na Índia. Aqui no Douro, felizmente as castas misturam-se... e bem!
São 40 as castas permitidas na confecção do Vinho do Porto. No entanto, as melhores e mais utilizadas são seis. A Touriga Nacional é a melhor em vigor e força. Produz pouca quantidade, mas de grande qualidade. Uvas pequenas e azuladas. Os vinhos têm uma tonalidade profunda e aroma a frutos silvestres. Dá-se em solos quentes e áridos como estes do Douro. A Tinta Roriz é a única, das clássicas, não originária de Portugal (em Espanha é a "temperanillo", na região de Rioja). Viril no carácter e com taninos fortes, tem nariz de resina, com aroma a cedro. A Touriga Francesa dá uma quantidade abundante, vinhos claros e aromáticos. A Tinto Cão, uma das primeiras variedades a ser aqui plantada, provavelmente antes do séc. XVI, produz pequenas quantidades de excepcional subtileza e invulgar aroma prolongado. A Tinto Amarela, produz com abundância. Cachos apertados, com uvas de casca fina e com sabor profundo a frutos maduros. Adora uma boa exposição ao Sol. Finalmente a Tinta Barroca é uma inovação introduzida há cerca de 100 anos. Colheitas abundantes. Vinhos robustos, aveludados e elegantes. Suaviza o lote final. A vinha é resistente ao frio, podendo ser plantada virada a norte.
Na década de 1870 apareceu a filoxera. Um insecto que ataca as raízes da videira e que as destrói completamente. Foi a calamidade na Europa. Na iminência de terem de beber água ou cerveja, os civilizados europeus acabaram por descobrir que o male viera da América, claro. Provavelmente numa vinha contaminada que fora exposta num Salão de Agricultura em Paris. Ora, se essa vinha não morria, era resistente... A partir de então as vinhas europeias passaram todas a ser enxertadas com vinha americana. O rizoma é plantado e depois faz-se a enxertia da vinha nativa. A diferença é que aqui no Douro o enxerto é feita nos próprios vinhedos e não em viveiro. Ficamos por aqui. Amanhã vamos aos Vintage...
jp

10 comments:

jugioli said...

Adoro esse tema....
muito saboroso, espero pelos Vintages


JU

roserouge said...

Que manancial de sabedoria, pequeno! E por falar em vinhos, amanhã conto-te uma história lá no meu canto...

Mírian Mondon said...

Acompanhei sua sequencia Vinho do Porto e descobri o prazer de te ler.
Obrigada pela visita!

O quadrinho sobre a crise tambem é muito bom! Voltarei.

Anonymous said...

Também não sabia que o Jorge sabia TANTO de vinhos! E não os bebe!

João Menéres said...

Continuo maravilhado com o poder de síntese que o J.P. tem e sendo, ao mesmo tempo, ABSOLUTAMENTE CLARO.
Só quem não sabe ler é que não aprende!

Pena é ele não beber.
Queria retribuir outras lições com uma garrafita (a sério!!!).

Anonymous said...

João: obrigado do fundo do coração. Já atingi a quota vínica que me estaca destinada por Baco. Já não tenho mais "benefício" (esta é só para entendidos). Vai fazer 4 anos que deixei de beber. Não é fácil, mas é compensador! Agora estou a pensar tirar um curso de escanção só para me tentar!!!
A todos: obrigado pela v/paciênciA em me ler. Pena esta coisa não ter sabor e cheiro...

Maria Augusta said...

Jorge, como o João disse, tua capacidade de sintetizar é fantastica, quanta coisa interessante em poucas palavras...Felizmente eles conseguiram combater a filoxera, da para imaginar a Europa sem vinhos?
Tudo isto me deu agua na boca, a começar pelas uvas, depois o vinho. Até vou tomar um do Porto na hora do aperitivo hoje.
Abraços.

Lizete Vicari said...

Adorei!
Falou até sobre a filoxera!
Fantástico, aquí no Brasil o cavalo é de uma uva americana que chamamos Isabel. ( Labrusca ).
Este é o segundo ano que uso esta uva para fazer um vinho só para casa. Coisa de cem garrafas.
Só para lembrar dos meus nonos, nos davam pequenas taças deste vinho no almoço.
Um beijo, estou amando! lili

Lília Abreu said...

Acho que foi com todo o prazer que todos ficámos mais "conhecedores" (eu até publicitei no twitter) - vou copiar os textos num unico documento - ao menos, pq a memória vai falhando, não temos que andar em pesquisas.
Saúde! com... sumo, rs

Jorge Pinheiro said...

Obrigado, bebedores(as) inveterados(as).