Curioso é que
a minha mãe, há medida que envelhece, e particularmente depois da morte do meu
pai, vai falando da localização da casa num tom dubitativo. Repete sem cessar,
nos almoços dominicais, a mesma interrogação que todos já sabemos de cor, Como vim eu parar a Oeiras? Com isto ela
quer dizer várias coisas: como uma pessoa de Bragança veio parar aqui; porque
não ficou no Porto, onde está quase toda a família; finalmente, já que trabalhava
em Lisboa, porque decidiram mudar para Oeiras.
Com o passar
do tempo, e há medida que vai repetindo a dúvida, acrescenta um certo tom
negativo. Ela acha que foi asneira mudar para tão longe do sítio onde trabalhou
anos a fio. Os 20 km para Lisboa e os 20 km de regresso eram estafantes. Os
engarrafamentos, uma perda de tempo, enervante e irritante… Podiam ter pedido o
empréstimo e comprado um andar em Lisboa. Sente-se responsável, porque acabou
por ser ela a forçar a compra em Nova Oeiras. O meu pai estava em Paris e
sempre teve pouca iniciativa para negócios familiares. Foi ela que decidiu e
avançou.
Às vezes
apetece-me dizer-lhe que não há “ses” na vida. Se não tivéssemos vindo para
Oeiras, eu não teria conhecido quem conheci, não tinha tido os dois filhos que
tenho, não teria a Sofia como neta. E isto sim, seria verdadeiramente um grande
“se”.
4 comments:
Há ses impenetráveis.
Se não tivessem ido parar a Nova Oeiras, por certo que a feliz designação do EXPRESSO DA LINHA não teria acontecido.
Como se chamaria, se...
É bem visto.
Há muitos, grandes e verdadeiros "ses" na vida.
As dúvidas sob o passado são tão reais quanto às do futuro. A vantagem é que para o futuro ainda não há remorso.
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