Desde que vim
para Nova Oeiras sempre andei acompanhado por cães. Primeiro foi o Nero, um
“Serra d'Aires” de pelo preto e encaracolado. Era como se fosse um irmão. Viveu
quase toda a minha adolescência, até começar a fazer disparates. Como
cão-de-guarda que era, teimava em trazer para casa qualquer rebanho que visse.
Naquele tempo havia ainda ovelhas a pastar na Quinta das Palmeiras e mesmo em
Nova Oeiras. Por mais de uma vez, arrastou o rebanho inteiro tentando fazê-lo
passar o portão da moradia, perseguido pelo pastor impotente e por dois cãezitos
pequenos enervados a ladrar atrás. O pior foi que o Nero começou a morder.
Primeiro foi um amigo meu que, na brincadeira, me ameaçou com um pau. Em minha
defesa, o Nero perfurou-lhe o braço. Depois foi o carteiro e o polícia que
ficaram com farda rasgada. Finalmente, numa rara discussão com o meu pai, ele
levantou a mão ameaçando dar-me um correctivo e zás! O Nero trespassou-lhe a
mão de um lado ao outro. Acabou enviado para uma unidade militar, onde estavam
a fazer experiências com cães de ataque de raças portuguesas. Ao que soubemos
depois, atacou o tratador e filou o capitão da unidade. Julgo que acabou
fuzilado.
A seguir veio
o Athos, um “Setter” irlandês de grande porte, pelo ruivo e completamente
despassarado. Duvido que alguma vez tenha percebido quem eram os “donos”.
Sempre a correr furiosamente por Nova Oeiras, acabou por desaparecer não tinha
ainda três anos, talvez atropelado, roubado, ou apenas desaparecido em combate.
Nunca soubemos.
A seguir veio
o Bruce. Um “Pastor-Alemão” castanho e preto. Foi no Verão de 68. Quase com 17
anos, completei o 7º ano do liceu. No ano seguinte entraria para a Faculdade de
Direito. O Bruce foi-me oferecido por uma namorada de Verão. Chamei-lhe Bruce em homenagem ao
Jack Bruce, baixista e vocalista dos The Cream, a banda que mais ouvia na
época. Era um cão que impunha respeito. Não andava à solta. Tinha de ficar
preso à noite. Andava comigo sempre de trela. Fizemos uma boa parelha durante
alguns anos. Depois o cão morreu, julgo que com problemas cardíacos.
Estes foram os
três cães da minha adolescência. Depois, já muito mais tarde, ainda veio o
Guri, um rafeiro super simpático que acompanhou a infância dos meus filhos e,
finalmente, o Bezunga, um “Serra da Estrela” arraçado de “Pastor-Alemão”,
animal de grande porte, com quase 60 quilos. Morreu, faz agora três anos. Sofreu
muito nos últimos tempos de vida. Alergias, doenças de pele e finalmente
cancro. Passámos dois anos de veterinário em veterinário. Acabou por ter de ser
abatido. Fui eu que dei a ordem. Fiquei a segurá-lo até ao fim e depois chorei
muito.
O problema dos
cães é a pouca duração, a quantidade de doenças que acumulam, o afecto que lhes
temos e as saudades que ficam. Não faço tenções de ter mais cães.
2 comments:
Em número de cães, julgo que nos equivalemos.
Um cão polícia.
Um galgo.
Uma cocker.
Uma perdigueira portuguesa.
Só tenho fotografias das duas últimas que cito, mas sei que tivemos alguns mais exemplares de outras raças...
E tive uma gata, é verdade.
Pois é, Jorge, afeiçoamo-nos aos amigos de 4 patas e depois é uma tristeza.
Cães de porte pequeno e muito pequeno vivem muitos anos.
Os grandes e gigantes morrem mais cedo(há exceções claro), assim como os de raça pura que parecem mesmo que possuem "prazo de validade".
Quanto mais mistura mais saúde.
Imagino que o rafeiro venha ser o nosso vira-lata, ou SRD. Esses sim costumam ser fortes e resistentes. Atualmente tenho 6;são os meus eleitos.
A perda só é lamentada quando o convívio foi querido. Afinal as boas lembranças é que contam.
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